sexta-feira, 29 de junho de 2012

Insana, a menina dos lábios negros, olhos cor de rosa e o cabelo azul.
Que atire a primeira pedra o homem que nunca quis estar ao lado dela...
Ao lado da menina que gosta de samba, que canta rock e dança ballet.
A menina que nem sabe recitar os próprios poemas.

Os homens suspiram quando ela passa dançando.
Ela gosta de aventuras, gosta de paixões intensas e feridas incuráveis.
Gosta de se descobrir em outros corpos.
Ela também adora beijar o perigo que se esconde em cada beco.

Que menina louca!
Que perfume delicioso fica quando ela passa pelo meu portão...
E quando minha mão alisa seu corpo. Oh meu Deus!
Menina, por que não fica ao meu lado?

Ela gosta de rir, ela gosta de rir de mim.
Ah menina, fique mais um pouco...
Ela vive poesia, ela respira poesia... Ela é a poesia mais linda que já conheci.

Ela morde os lábios, fecha os olhos e faz um desejo.
Daí, o Mundo inteiro para.
A minha varanda vira um camarote que tem a melhor vista do seu quarto.
Do seu templo, do seu pedaço de Mundo.

E a minha vontade era de devorar você.
Como consegue ser tão linda menina?
E eu não consigo pensar em mais nada.
Na verdade, minhas vinte e quatro horas só servem para ficar pensando em uma maneira de a vida me colocar ao seu lado menina louca...

sexta-feira, 22 de junho de 2012


- Eu ando tão triste que se eu quiser ficar deprimida, vou ter que ficar um pouco mais feliz.
Disse ao dono do bar que estava de costas.
- Sabe o fundo do poço? Meu senhor, estou falando!
Ele olhou pra ela com cara de nada e respondeu de má vontade:
- Fundo do poço está em falta.
- Eu não quero essa bebida! Quero um abraço.
- Olha, com todo respeito. Vai tomar no cu!
- Eu não gosto moço. Cu é algo muito ofensivo!
- Faça como quiser, vou fechar em dez minutos.

Ela pagou o bar e foi pra casa. Foi se arrastando e contando as borboletas que  jurava que estavam a cercando ao som de Engenheiros do Hawaii.
Chegando em casa, a chave não entrava. Tocou a campainha, gritou e bateu na porta, mas ninguém atendia.
A polícia passou e ela fez sinal.
O carro parou e chamou a atenção da vizinhança que estava toda reunida fazendo churrasco.

- SEU POLIÇA...
- O que está acontecendo senhora?
- Eu ando tão triste que se eu quiser ficar deprimida, vou ter que ficar um pouco mais feliz.
- Minha senhora, isto não é um caso que possamos resolver! Está bêbada?
- NÃO SOU SUA! EU SOU DO EDINHO MOÇO... ELE NÃO ME AMA MAIS! PEDE PRO EDINHO ABRIR A PORTA?
O policial respirou fundo e bateu na porta.
- Acho que não tem ninguém aqui.

Os polícias foram embora e ela deitou na calçada a se lamentar.
Quinze minutos de canções de boteco, o suposto homem chega abraçado com uma mulher.

- Eu não já mandei você ir embora? Vai, levanta daí!
Ele disse  enquanto chutava as pernas dela.
- EDINHO - Ela abraçou as pernas dele - EU TE AMO!
- Ama porra nenhuma, vai embora!
- Edinho, ma...
- JÁ MANDEI CALAR A BOCA PORRA! LEVANTA AGORA!
- Não vou desistir de você.
- Comece agora então! Você é desumana e suja. Você me jogou fora.
- Eu não podia, eu não tinha...
- CONDIÇÕES DE ME CRIAR É? PIADA! EU JÁ CONHEÇO ESSA ESTÓRIA E POSSO DIZER QUE EU NÃO TENHO CULPA NENHUMA! VOCÊ NÃO MERECE SER CHAMADA DE MÃE! EU ODEIO VOCÊ!
- É tarde pra dizer que te amo?
- É sim.

O último suspiro e ela foi embora. Morreu de desgosto e foi enterrada do lado da vergonha. Ele nunca disse que a amava e tinha razão. O amor reprimido e frustrado dela fica ecoando nas vielas da favela. Vielas que alimentam estórias que a morte é quem faz o 'feliz pra sempre'.

Nas vielas de onde moro.
'Onde eu moro não existe perdão'.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Vou aprender a andar.
Não tenho planos, sonhos
Asas, amores
Ou algo que me faça voar...

Não vou mais rastejar
Os versos um dia vão ficar em sintonia.
Vou quebrar os espelhos e refletir ao som do único disco que resta em minha estante.
As bebidas estão fora da validade e o meu documento diz que ainda vou valer por longo tempo.

A solidão azul desbotou e ficou cinza.
A cada lágrima, um novo tom de sépia.
Eu preciso levantar!
Um grito apenas não ajuda e eu tenho que entender isso.

Meus gritos que arranharam gargantas alheias
Foram gravados e modificados em um computador.
Se existirem outras gerações minhas, vão sentir prazer e orgulho de alguma fotografia de um ser que nunca existiu.
Sabe aquela coisa de andar? Eu vou andar!

E vou andar sozinha.
Afinal, tentei te ligar, mas não existem telefones no céu...
Por isso, vou andar!
Não sei pra onde ou se vou chegar nesse não sei, mas eu vou andar!

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Etiquetas e vitrines são modelo do verdadeiro lixo.
Quando os dicionários virarem bíblias e a cultura virar igreja, vocês vão morrer enforcados em seus próprios versos imundos. 
Entendam, arte não é algo feito a base de dinheiro. Sentimentos existem antes mesmo do homem existir.
Brasil, mude o cinzeiro e pare de mostrar os dentes amarelados. A favela samba na praça, os artistas sambam na cara dos políticos. Deixando marcas de salto e brilho que escorre da maquiagem.
É Brasil, vamos beber cachaça e dizer que somos felizes!

quinta-feira, 14 de junho de 2012


Após um longo passeio nas vielas do medo, sentei no meio de uma rua colorida. Cores tão intensas quanto as que existem nas vielas do morro. Voltei correndo aos becos da solidão. Preto, cinza, azul marinho e branco. Uma música clássica de fundo e um vento forte batendo no meu longo vestido. As lembranças do bar e a saudade de casa. As noites mal dormidas. Os pecados que motivaram a infelicidade estavam estampados em fotos nas paredes da sala de uma casa antiga. O telefone não funcionava e o disco não parava de tocar.
Um grito vindo lá de fora, mas a porta estava trancada. Uma menina pequena implorando socorro e eu não podia fazer nada.
Vida. O que significa esse pequeno nome? Por que a arte de respirar e sentir, recebeu esse nome? Nada de dicionários agora, não preciso saber o que imundos e terceiros explicaram as pessoas comuns. Quero entender por mim mesma.
Acho que vou voltar a minha teoria de criança.
Quando eu tinha uns dez anos, achava que a vida foi uma mulher que sofreu muito por todos e por isso que Deus usou o nome dela pra intitular a arte de respirar e sentir. Eu sei que é uma teoria sem explicação, mas eu era mais feliz quando acreditava nisso.
O disco começa a tocar invertido e as palavras viram um contrato com a morte. “EU ESTOU FALANDO DE VIDA, DA PRA ESPERAR UM POUCO?” gritei e o disco disse que iria esperar.
As cinzas da lareira eram resto de pessoas que se foram. Os papéis que enrolavam drogas eram certidões de nascimento de pessoas que assinaram algo com aquele disco. Fui até o segundo andar da casa e abri uma janela que iluminou e derreteu quadros daquele quarto cinza. Comecei a cantar alto, uma música que dizia no refrão “Liberdade está presa na cadeia do ser humano, no fim da inocência, do lado do dinheiro...”. O disco se enfureceu e me mandou calar a boca. Sorri e parei de cantar. Olhei pra trás e percebi que o quarto estava manchado com um pouco de tinta rosa. Foi ai que comecei a entender muita coisa sobre a menina que se chamou Vida. “Eu não vou estar aqui quando amanhecer. Minhas malas já estão arrumadas pra foto do adeus”. O disco ficou arranhado na parte que dizia felicidade. O rosa começou a tomar conta do quarto, as portas se abriram e os móveis derreteram formando tinta. A menina entrou correndo e abraçou minhas pernas. “Estamos livres, vem!”, eu disse a ela, que logo me respondeu:
- Do que adianta desafiar os cenários e as vozes ocultas e ainda sim ser infeliz?
- Precisa de mim? – Sentei ao lado dela – Quer que eu fique?
- Não, mas eu sei quem precisa de você. – Ela pegou uma caixa com um laço vermelho. – Vai pra casa, vai... Eu estou bem.
- Tudo bem, mas quem é você?
- Meu nome é infância...
E mais uma vez, um sorriso sincero nasceu no meu rosto. Esse mesmo sorriso que me acompanhou até em casa. Chegando lá, abri a caixa e vi uma fantasia de boneca. Vesti e comecei a rir em frente ao espelho do meu quarto. Sentei no chão e vi um bilhete ao lado da cama. Não consegui controlar as lágrimas de felicidade. Sai correndo até a rua e deixei lá o bilhete mais lindo que já recebi! O bilhete que dizia: “Obrigada por ter se lembrado de mim. Nunca mais me deixe. Um beijo da sua querida Infância.”. 


Cindy Ximenes

terça-feira, 12 de junho de 2012

Ele estava tão decepcionado que a bebida mais forte do bar, virou lágrimas.
O álcool fez arder seus olhos.
As mãos sujas de tinta fizeram arder mais.
Ele escuta o copo quebrando e virando lembrança.

Meu caro trabalhador, por que está assim?
'Quem está dizendo isso? O que quer comigo?'
Ele gritava com medo dos versos.
Afinal, a caneta agredia bem mais que uma faca.

Ele lavou os olhos.
Começou a pintar a última parede branca que restava.
Seus traços eram como palavras escritas por uma faca em um corpo nu.
Um sopro do céu faz com que seus longos cabelos voem...

Um coração invertido se forma
Mas não é aquela coisa escrota que as pessoas intitularam coração só para ser algo bonito.
O órgão estava ali, de cabeça pra baixo e sem movimentos.
Aquilo era uma pintura...

Ele prendeu o cabelo e começou a fazer um corpo.
Belas e longas curvas.
O corpo que só tinha um coração invertido.
Longos cabelos negros e um beijo nos lábios vermelhos que ainda estavam secando.

Ele engoliu tinta só para sentir o gosto dela.
Pegou o violão e tocou músicas de amor
Ele se declarou para sua nova companheira.
Três horas de juras de amor, ele adormece.

A imagem da mulher de tinta ganha vida.
Ela o abraça forte.
Eles dormem juntos e no dia seguinte acorda sujo de tinta.
Beija sua musa e volta a trabalhar.



Cindy Ximenes.