sexta-feira, 22 de junho de 2012


- Eu ando tão triste que se eu quiser ficar deprimida, vou ter que ficar um pouco mais feliz.
Disse ao dono do bar que estava de costas.
- Sabe o fundo do poço? Meu senhor, estou falando!
Ele olhou pra ela com cara de nada e respondeu de má vontade:
- Fundo do poço está em falta.
- Eu não quero essa bebida! Quero um abraço.
- Olha, com todo respeito. Vai tomar no cu!
- Eu não gosto moço. Cu é algo muito ofensivo!
- Faça como quiser, vou fechar em dez minutos.

Ela pagou o bar e foi pra casa. Foi se arrastando e contando as borboletas que  jurava que estavam a cercando ao som de Engenheiros do Hawaii.
Chegando em casa, a chave não entrava. Tocou a campainha, gritou e bateu na porta, mas ninguém atendia.
A polícia passou e ela fez sinal.
O carro parou e chamou a atenção da vizinhança que estava toda reunida fazendo churrasco.

- SEU POLIÇA...
- O que está acontecendo senhora?
- Eu ando tão triste que se eu quiser ficar deprimida, vou ter que ficar um pouco mais feliz.
- Minha senhora, isto não é um caso que possamos resolver! Está bêbada?
- NÃO SOU SUA! EU SOU DO EDINHO MOÇO... ELE NÃO ME AMA MAIS! PEDE PRO EDINHO ABRIR A PORTA?
O policial respirou fundo e bateu na porta.
- Acho que não tem ninguém aqui.

Os polícias foram embora e ela deitou na calçada a se lamentar.
Quinze minutos de canções de boteco, o suposto homem chega abraçado com uma mulher.

- Eu não já mandei você ir embora? Vai, levanta daí!
Ele disse  enquanto chutava as pernas dela.
- EDINHO - Ela abraçou as pernas dele - EU TE AMO!
- Ama porra nenhuma, vai embora!
- Edinho, ma...
- JÁ MANDEI CALAR A BOCA PORRA! LEVANTA AGORA!
- Não vou desistir de você.
- Comece agora então! Você é desumana e suja. Você me jogou fora.
- Eu não podia, eu não tinha...
- CONDIÇÕES DE ME CRIAR É? PIADA! EU JÁ CONHEÇO ESSA ESTÓRIA E POSSO DIZER QUE EU NÃO TENHO CULPA NENHUMA! VOCÊ NÃO MERECE SER CHAMADA DE MÃE! EU ODEIO VOCÊ!
- É tarde pra dizer que te amo?
- É sim.

O último suspiro e ela foi embora. Morreu de desgosto e foi enterrada do lado da vergonha. Ele nunca disse que a amava e tinha razão. O amor reprimido e frustrado dela fica ecoando nas vielas da favela. Vielas que alimentam estórias que a morte é quem faz o 'feliz pra sempre'.

Nas vielas de onde moro.
'Onde eu moro não existe perdão'.

Nenhum comentário:

Postar um comentário