quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Vampira que cozinha seios

Era uma vez, eram duas vezes, eram três, quatro vezes...

* Um príncipe que resgata uma princesa a cada dois meses.
* A vampira que cozinha seios
* Princesas que usam saia de borracha
* Príncipes viciados em cigarro
* Costureiras frustradas
* A fada vagabunda

Dez horas e vinte e cinco minutos.
Terra do Sol Gritante.

Cinco novos vestidos na vitrine. As costureiras conseguiram se manter firme até o momento em que o homem mais bonito da cidade passou. O mesmo homem que arruma uma nova "mulher de sua vida" a cada dois meses.
E além de toda sua beleza e de sua linda voz, ele sabia criar lindos poemas.
Quando entrava na cidade em seu belo carro ao som de Rock Clássico, as mulheres da cidade paravam. Quer dizer, quase todas. Mas não pense que a mulher que se faz indiferente gosta disso. Ela só não pode sair de casa, afinal ela não quer ser apedrejada ou queimada na fogueira.

Dez horas e trinta minutos.
Castelo do Sol Gritante.

Hard Rock no rádio e princesas totalmente descontroladas.
A fada que já estava semi-nua comandava o som e todos dançavam em meio a cigarros e bebidas fortes.
O belo príncipe entra e consegue fazer com que toda a festa pare e olhe seu belo sorriso.

Dez horas e trinta minutos
Caverna que fica do outro lado da cidade.

- Vampira?
- Pois não...
- Meu nome é Julieta, sou noiva e futura esposa de Juan.
- Juan não seria o príncipe mais desejado da Terra do Sol Gritante?
- É sim, vamos nos casar amanhã.
- Felicidades princesa! O que posso fazer por você?
- Quero que faça um feitiço. Quero que Juan me ame para sempre!
- Eu não sou uma Bruxa, sou uma Vampira. Eu não faço feitiços. Santa ignorância! O máximo que eu poderia fazer é matar todas as demais e ai só iria sobrar você.
- Adorei a ideia! Pode fazer isso?
- Claro que não! Está louca princesa?
- Não, louca está você! Tem que matar todas as mulheres do reino e se matar também. Eu tenho que ser a ÚNICA mulher. Assim o Juan vai ter que ficar comigo pra sempre.
- Princesa... - um sorriso - Quer minha ajuda, não?
- Claro que sim!
- Que tal dar uma passada no Castelo do Sol Gritante?
- No Castelo da Fada?
- Sim, vai ter uma bela surpresa quando chegar lá.
- Espero que sim...

Dez horas e quarenta e cinco minutos
Castelo do Sol Gritante.

Um grito que consegue parar com toda a festa.
Julieta não acredita que seu futuro marido está beijando outra. E essa "outra" com certeza não era qualquer "outra". Mais bonita, mais avantajada e com o mesmo sangue de sua mãe. Sua irmã, uma das vadias da cidade estava ali aos beijos com seu ex/futuro marido.
O casamento é cancelado, a princesa se desmancha em lárgimas no segundo andar.
Já no primeiro andar, todos comemoravam a nova fase na vida do príncipe Juan...

Outro dia maldito, cinco horas e trinta minutos.
Caverna que fica do outro lado da cidade.

As costureiras chegam com uma capa vermelha e entregam a Vampira que estava cozinhando um novo par de seios.
As costureiras a elogiam e tentam lhe agradar, mas a Vampira age como se não pudesse ouvir.

- Vampira, nós só queremos mesmo é agradecer. Graças a você, Juan não vai mais se casar com Julieta! Amamos você! 

As costureiras retiram-se.

Naquela mesma hora...
Castelo do Sol Gritante.

Príncipes de outros lugares tocavam. O mais velho fazia um impecável solo de guitarra.
Princesas ficavam nuas e aquela festa parecia que nunca iria ter um fim.

Uma semana maldita depois, quatorze horas e vinte minutos.
Castelo do Sol Gritante.

As luzes da festa se apagam por minutos. Silêncio...
Quando as luzes acendem, a banda não está mais ali.
E onde será que poderiam estar? Isso é um fato importante, não mais importante que Juan. Ele estava com uma marca. A marca da Vampira que cozinha seios. Todos ficam desesperados e tentam ajudar a limpar aquele sangue, mas ninguém consegue!

Caverna do outro lado da cidade.
Cinco minutos depois...

A Vampira mata todos os homens da banda e chupa o sangue. Corta os seios e começa a cozinhar.
E por que seios?
Seios são como armadura, são dos seios que saiem o primeiro alimento do homem (claro que esses seios, são seios femininos). 
Cozinhando seios e cantando Pop Rock. E não é que ela era feliz? 
Quando termina de cozinhar seus novos pares de seios, ela recebe uma visita.

- Vampira!
- O que faz aqui Fada?
- Você precisa limpar Juan!
- Limpar? Por que eu faria isso?
- Não, você já fez algo! Como teve coragem de sujar o homem mais lindo que já existiu em nossas terras?

Vampira senta-se a mesa e começa a comer os seios.

- Vampira! Precisa fazer algo!
- Aceita? São os seios da sua banda...
- Você não vale porra nenhuma!
- Eu? Ah claro, eu sou a vagabunda! Fada, não me faça rir.
- Limpe o príncipe. E se o seu medo for se apaixonar por ele, pode ficar calma. Você não tem sentimentos e mesmo que sentisse algo, ele jamais iria querer algo com uma criatura tão feia como você.

A Fada vai embora...

Dia seguinte, vinte horas e quinze minutos.

- Vampira?
- Ta legal, eu vou colocar uma porta nessa porra. Quem é?
- Juan, posso entrar?
- Já está dentro, não? O que deseja?
- Preciso que retire essa marca.
- Por que eu faria isso?
- Estou implorando...
E por minutos a Vampira encontrou os olhos de Juan. E naqueles minutos ela sentiu algo gostoso como um poema de amor...
- Vampira? Por favor! Tire esse marca de mim...
- Espere, estou cozinhando agora. Aliás, por que não fica pra jantar comigo?
- Tudo bem...

A Vampira não acreditou que o lindo príncipe aceitou sua companhia! Era algo totalmente surreal...
Que surpresa! Que bela surpresa! 
E ela nem sabia que aquela seria a noite de belas surpresas...
Enquanto a Vampira cozinhava, o príncipe ficava lendo seus poemas nas paredes sujas daquele lugar que todos chamam de Caverna.

- O jantar está na mesa Juan.
- Obrigada Vampira...

Os dois sentam-se a mesa e jantam em silêncio.
O último gole de vinho é tomado.

- Então, vamos tirar essa marca e você pode ir embora...
O príncipe anda em direção a vampira e abraça forte.
Eles ficam minutos assim, sem dizer uma palavra.
Ele tira a fita que segura o longo cabelo da Vampira e começa a dizer:

- A minha solidão vai se tornar amiga...
A minha solidão vai se tornar amiga...
Esse lugar não é meu.
Estou preparada para foto do adeus.
Esse lugar não é meu.

A vampira larga dos braços de Juan.

- Como pode ler as minhas coisas?
- Desculpa, eu não...
- SUMA DAQUI! SERÁ AMALDIÇOADO PARA SEMPRE!

Castelo do Sol Gritante, vinte minutos depois.

Juan chega em lágrimas e vai dormir.
No segundo andar, lágrimas de princesas largadas por Juan e lágrimas de Juan por ser jogado na rua pela primeira vez.
No primeiro andar, festa ao som de Hard Rock.

Dia seguinte, aquela mesma hora.
Uma rosa na Caverna da Vampira.
Durante um mês, todas as noites ela recebia rosas...

E no castelo, mais festas!
Mais mulheres nuas e loucas por Juan!
Mais Hard Rock...
Mais, mais e mais!
Acha que alguém sente falta de uma vampira? Claro que não! Ninguém pode sentir falta de algo que não teve...
E mesmo com a marca da Vampira, Juan ainda era o homem mais bonito.

Um mês e meio depois.
Lar das costureiras.

Vampira bate na porta, mas ninguém atende. Estranhou aquilo estar fechado, afinal aquela casa sempre estava aberta. Tenta a porta de trás e pela janela vê Juan na cama com uma das costureiras.
"Maldito seja Juan!" disse ela sem controlar as lágrimas...

Naquele mesmo dia mais tarde.

- Vampira!
- É, eu preciso de uma porta... O que você quer Fada?
- Que tal uma vista em meu castelo?
- Não, obrigada.
- Ah vai sim!

E com um estalo de dedos, Fada consegue com que Vampira adormeça.
E ela acorda em um quarto do castelo. Nua e cheia de rosas em volta de seu corpo.

- Bom dia minha linda Vampirinha! Está com fome?
- O que estou fazendo aqui? - Ela tenta levantar, mas não consegue - Me deixe em paz Fada!
- Não, não! Hoje vamos dançar Hard Rock!
- Fada me deixe em paz!
- Mais tarde... Agora é hora de festa!

Cinco minutos depois no salão de festas do castelo.

- Meus queridos, muitas palmas para a nossa querida Vampira!
Todos batem palmas e ficam rindo.
- Vamos Vampira, cante! Hoje é dia de festa!
- Prefiro morrer!
- Morrer e depois ter seus seios devorados por sua mãe? Gostei!
- Minha mãe?
- Vamos jogar a Vampira junto com as desgraçadas!

Um caldeirão que faz com que as vampiras lá dentro derretam.
Vampira é jogada ali e a festa continua.
Seus pés começam a derreter, suas pernas...
Ela desmaia.
Acredite, isso não é um fim.

Vampira acorda em sua caverna.
Com roupas e sem nenhuma ferida.
Juan estava ao seu lado.

- Foi você?
- Sim, fui eu... Pode tirar a marca?
- Claro.

Ela levanta e pega o pano, passe em um gel azul e limpa o corpo do príncipe.
As marcas vermelhas somem.

- Pode ir, você está livre...

Juan tentou ir, mas não conseguiu. Então ele ficou ali por duas semanas. 
Duas semanas regadas a poemas, seios de moças, amores e vinho.
E a Vampira virou princesa!
Hard Rock romântico tocava e reinava em volta da fogueira.
Ela estava mais feliz ainda.

Os arco-iris cercaram a Caverna que mudou de cor.
Lá dentro da Caverna os sorrisos reinavam e lá fora as costureiras e princesas morriam de inveja.

Primeira noite da terceira semana. Eles adormecem juntos como de costume, mas na manhã seguinte...

Casa das costureiras.
Sete horas e quinze minutos.

- Juan, ela sequestrou mesmo você?
- Sim, ela é louca! Está apaixonada por mim, acredita?
- Nunca gostei dela! Que dó de você meu lindo...

A casa de costuras fecha e começa mais uma daquelas festas carnais.

Duas horas depois.
Castelo do Sol Gritante.

- Que louco Juan! A vampirinha apaixonada por você?
- É Fada! Que porra - risos - Mas estou aqui, de volta pra todas as festas!

Duas semanas de festas infinitas no castelo de Fada e choros infinitos na caverna de Vampira.

O inverno começa.
O príncipe fica noivo umas quarenta vezes em dois meses.
Todas as mulheres que ele amou (sim, ele amou) foram mortas com um tiro no peito.
E depois de enterradas, viraram alimento da Vampira.
E comer os seios que foram tocados por Juan virou consolo.
Durante dois meses ela comeu apenas os seios das mulheres que puderam ser amadas por Juan.
Até que um dia a Vampira adormeceu...
Juan conseguiu amar alguém e conseguiu ser feliz até o dia de seu casamento.
Penélope estava entrando no salão de festas com seu vestido de noiva, quando as luzes se apagam.
E quando acendem, todos estão mortos.
O coração de Juan virou um pingente de cordão e os seios dos convidados foram comida durante anos.
A vampira fez da pele de Juan um abrigo.
Dos seios, comida.
Dos olhos, amuleto.
E ela não precisou de mais nada...
Sua alma hoje caminha de mãos dadas com crianças.
E uma dessas crianças é Juan reencarnado.
E essa mesma criança está crescendo e aprendendo a amar do modo que não amou em outra vida. E a Vampira espera ansiosamente pelo dia que vai ser amada e rasgada pelas mãos no único homem que amou.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Vestido de festa





Cobras comendo cobras em cima de pneus pegando fogo.
Casas feitas de diamantes em cima de muita lama.
Casas de palha com dois andares.
Engraçado que com todos os meus pecados e cigarros ainda me vejo como alguém superior.
E vejo você na igreja pedindo perdão por algo que não fez.
Minha janela cheia de flores velhas e com teias de aranhas hoje viraram laços.
Laços com fitas e flores velhas... e com um pouco de sorte eu começo a costurar.
Um novo vestido de festa! Já que todos estão na guerra, eu vou costurar...
Nada de fardos ou uniformes, pois meus tecidos são coloridos.
Nada de cores infelizes, eu quero que o meu vestido sorria!
E ao som daquela música gostosa que faz doer de saudade eu vou desenhar o vestido que um dia uma fada poderá usar.
Uma fada tão doce e pura quanto uma criança.
Meus vestidos são como a cereja do bolo, como as flores entre as pedras...
Danças longas e banhos quentes. Meu vestido de festa é tão lindo quanto um anjo!
E ele é como o sol em meio a guerra. Pois diante de tantas mortes e infelicidades, ele continua fazendo brilhar e iluminar corpos infelizes.
Meu vestido de festa! Que faz belas curvas em corpos de escravas que fumam junto comigo.
E que esse vestido arrebente minha consciência e noção das coisas certas! Assim como o álcool faz.
Queimando e envenenando todos os quatorze pecados que existem em mim.
O colorido do meu vestido de festa vai colorir o sépia que predomina esse texto. E vai ser como chuva em meio ao sol, como dança ao redor da fogueira que já matou tanta gente inocente...
Os laços de flores com teias vão amarrar o mal e enfeitar o bem. O bem não existe sem o mal, então vamos guardar o mal, pois a mesmice amassa meus tecidos, minhas flores e meus cinzeiros.
E eu preciso dos três!
E não preciso de mais nada...
Vou queimar tecidos cinzas que vão se tornar cinzas na fogueira maldita.
E o meu vestido de festa vai cobrir meu corpo e vai me ajudar no ritual onde iriei me entregar a Deusa Lua.
E então eu serei pura e doce como uma criança...
Vou voar diante de todos as guerras e os pneus queimados.
Pois eu e meu vestido de festa não somos daqui, não somos de ninguém e nem de lugar nenhum...

Mulher da vida

Mulher da vida
Mulher da vida de um homem só
Esse mesmo homem que já está de saída.
Mulher sem nome e sem vida...

Uma e quinze, mulher da vida...
Mulher da vida de outro homem
Que homem?
Ela também não sabe...

- Por que não é mulher da sua vida?
- Não tenho vida.

Infeliz felicidade
Felicidade infeliz que causa arrepio
Sentimentos carnais
Arranhando e regando a flor da pele.

O sonho dela foi exportado
Exportado com duas mulheres e cinco garrafas
E ela é mulher da vida...
... da vida do homem que pagar mais

Nos dias de frio
Naqueles em que sente falta de alguém que está longe
A mulher da vida usa casaco de pele
Da pele do homem que pagar mais.

A mulher da vida despreza dinheiro, mas se vende em troca dele.
E todo dia ela vive um carnaval.
Pingando sangue e sambando semi-nua
Mulher da vida que samba pra quem paga mais.

Ela mostra que seu país é feito de samba
E que sua pele morena é herança de suas raízes
E que o tamanho de sua saia não importa, afinal sempre tem alguém pra tirar.
Aquele que paga mais ou que paga menos, afinal ela tem que se vender todos os dias e todas as noites.

domingo, 8 de julho de 2012

Os religiosos estão segurando pedras, eu estou com muito medo.
Se Jesus pregou o perdão, por que eles estão me atacando desse jeito?
O menino que está ao meu lado não para de chorar, talvez ele conheça o pecado de estar sorrindo.
Sabe meu menino, se em algum momento eu pudesse usar a razão, não iria te colocar nesse Mundo.
'Quem nunca errou que atire a primeira pedra'. Eu gritei o mais alto que pude e em questão de segundos, pedras voaram.
Ei meu menino, não chore. Eles são cruéis e você está apenas começando.
Se acalme, eu estou em frente as pedras, nem uma delas vai te machucar.
Estou sangrando demais...
Ei meu pequeno, você sabe de algo? Sente medo de alguém?
Eu preciso levantar.
Realmente, eu preciso levantar!
Diante de tanta maldade, de tanta hipocrisia e de tanta fuga na cor dos olhos, eu apenas observo.
O sol inventa um ponto de fuga e se esconde atrás de tanta mediocridade.
Com o meu menino nos braços eu saio correndo atrás da primeira sombra.
Não passamos de pecadores.
Pecadores com sonhos, com vida e com sorriso no rosto.
Sabe a fuga na cor dos olhos? Eu sinto que a culpa é minha.
Só o meu menino conseguiu olhar fundo e viajar na poesia que reina no meu olhar.
Sabe menino, vamos seguir.
Diante de pedras, bíblias e religiosos.
Um carro vermelho e muitos pecados na bolsa.
Vamos acender mais um cigarro e fugir. Eu tenho você e você tem a mim, acho que nada mais importa.

segunda-feira, 2 de julho de 2012


- Alguém sempre vai chorar...
- Charles, já disse que não quero mais falar sobre finais felizes!
Gritei e voltei a lixar as unhas.
- Sério. Você tem que escolher prioridades em sua vida.
- Aqueles que eu não quero fazer chorar?
- Isso!
- Parabéns, você filosofou Charles!
- Obrigado Megan. Amanhã vou levar você na Praça Diluna.
- Não! - Levantei e fui ajeitar a maquiagem - Estou indo embora.
- Por quê? Megan, você passou a semana toda na cama chorando e dizendo estar doente. É...
- Não sabe o que dizer, certo?
- Megan, você vai mesmo embora?

Os olhos dele estavam lacrimejando! Sei que é difícil acreditar que por dentro eu estava me sentindo mal, mas eu precisava ir embora. Os olhos dele me imploravam! Imploravam e diziam coisas. Eu sabia que precisava ouvir aquelas coisas, por isso fugi de seus olhos o tempo todo.

- Vou sim. Eu precisei de você, você me ajudou. Agora estou bem e vou embora, simples assim!
- Megan... - Ele prendeu a respiração e ficou vermelho. Ficou de olhos fechados por segundos, acho que iria me dar um tapa - Posso dizer uma coisa? - Ele conseguiu fixar os olhos nos meus.
- Diga - Eu já estava em desespero, fiquei realmente com medo de me entregar e me apaixonar por aqueles olhos.
- Se você só me quer ao seu lado quando está mal. Desculpa Megan, mas agora eu só vou desejar isso a você. Seja muito infeliz!

Fiquei envergonhada. Não consegui mais olhar em seus olhos.
- Alguém sempre vai chorar Charles...
- E quem é sua prioridade?
- Não tenho isso. Até mais...

Eu fugi do Charles por uma semana e finalmente entendi o que ele quis dizer. Eu chorei muito! Não por sentir algo, mas... Quer dizer, sim eu sinto algo por ele! Será que voltar e pedir perdão adianta?
Claro que não!
E se o Charles pudesse me ouvir? Não, ele não quer ouvir.
Depois de uma semana com o telefone desligado, lágrimas infinitas, remorso e cigarro eu resolvi dar uma volta.
Não vou mentir que fui com a intenção de ver o Charles.
Fiquei sentada na Praça Diluna por horas e nada...
Mas nada de ir embora! Eu vou esperar por ele!

- O que faz aqui?
- Charles! Você por aqui?
- Sabe que sempre sento aqui a essa hora.
- Não lembrava!
- Claro! Vou indo então...
- Não! Charles, vem cá!
Ele sentou ao meu lado.
- Diga...
- Uma amiga minha ama um cara e não sabe como dizer.
- O cara também sente o mesmo?
- Não sei, sente?
- Ele senti sim. Sente a ponto de perdoar. - Ele sorria como uma criança - Ele sente até demais!
- Acha que ela deve dizer?
- Ela é orgulhosa demais pra isso. - Ele levantou e estendeu a mão - Vamos pra casa?
- Pra sua casa?
- Pra nossa casa Megan!
- Nossa casa?
- Isso - ele sorriu de canto - Vamos?
- Claro! Só queria perguntar uma coisa antes de ir...
- Diga.
- Quem chorou com esse final todo?
- Eu. Chorei de alegria por saber que...
- Não Charles, você não sabe nada! Vamos...

Os Ruídos de uma Deusa.
Charles.
Cindy Ximenes.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Insana, a menina dos lábios negros, olhos cor de rosa e o cabelo azul.
Que atire a primeira pedra o homem que nunca quis estar ao lado dela...
Ao lado da menina que gosta de samba, que canta rock e dança ballet.
A menina que nem sabe recitar os próprios poemas.

Os homens suspiram quando ela passa dançando.
Ela gosta de aventuras, gosta de paixões intensas e feridas incuráveis.
Gosta de se descobrir em outros corpos.
Ela também adora beijar o perigo que se esconde em cada beco.

Que menina louca!
Que perfume delicioso fica quando ela passa pelo meu portão...
E quando minha mão alisa seu corpo. Oh meu Deus!
Menina, por que não fica ao meu lado?

Ela gosta de rir, ela gosta de rir de mim.
Ah menina, fique mais um pouco...
Ela vive poesia, ela respira poesia... Ela é a poesia mais linda que já conheci.

Ela morde os lábios, fecha os olhos e faz um desejo.
Daí, o Mundo inteiro para.
A minha varanda vira um camarote que tem a melhor vista do seu quarto.
Do seu templo, do seu pedaço de Mundo.

E a minha vontade era de devorar você.
Como consegue ser tão linda menina?
E eu não consigo pensar em mais nada.
Na verdade, minhas vinte e quatro horas só servem para ficar pensando em uma maneira de a vida me colocar ao seu lado menina louca...

sexta-feira, 22 de junho de 2012


- Eu ando tão triste que se eu quiser ficar deprimida, vou ter que ficar um pouco mais feliz.
Disse ao dono do bar que estava de costas.
- Sabe o fundo do poço? Meu senhor, estou falando!
Ele olhou pra ela com cara de nada e respondeu de má vontade:
- Fundo do poço está em falta.
- Eu não quero essa bebida! Quero um abraço.
- Olha, com todo respeito. Vai tomar no cu!
- Eu não gosto moço. Cu é algo muito ofensivo!
- Faça como quiser, vou fechar em dez minutos.

Ela pagou o bar e foi pra casa. Foi se arrastando e contando as borboletas que  jurava que estavam a cercando ao som de Engenheiros do Hawaii.
Chegando em casa, a chave não entrava. Tocou a campainha, gritou e bateu na porta, mas ninguém atendia.
A polícia passou e ela fez sinal.
O carro parou e chamou a atenção da vizinhança que estava toda reunida fazendo churrasco.

- SEU POLIÇA...
- O que está acontecendo senhora?
- Eu ando tão triste que se eu quiser ficar deprimida, vou ter que ficar um pouco mais feliz.
- Minha senhora, isto não é um caso que possamos resolver! Está bêbada?
- NÃO SOU SUA! EU SOU DO EDINHO MOÇO... ELE NÃO ME AMA MAIS! PEDE PRO EDINHO ABRIR A PORTA?
O policial respirou fundo e bateu na porta.
- Acho que não tem ninguém aqui.

Os polícias foram embora e ela deitou na calçada a se lamentar.
Quinze minutos de canções de boteco, o suposto homem chega abraçado com uma mulher.

- Eu não já mandei você ir embora? Vai, levanta daí!
Ele disse  enquanto chutava as pernas dela.
- EDINHO - Ela abraçou as pernas dele - EU TE AMO!
- Ama porra nenhuma, vai embora!
- Edinho, ma...
- JÁ MANDEI CALAR A BOCA PORRA! LEVANTA AGORA!
- Não vou desistir de você.
- Comece agora então! Você é desumana e suja. Você me jogou fora.
- Eu não podia, eu não tinha...
- CONDIÇÕES DE ME CRIAR É? PIADA! EU JÁ CONHEÇO ESSA ESTÓRIA E POSSO DIZER QUE EU NÃO TENHO CULPA NENHUMA! VOCÊ NÃO MERECE SER CHAMADA DE MÃE! EU ODEIO VOCÊ!
- É tarde pra dizer que te amo?
- É sim.

O último suspiro e ela foi embora. Morreu de desgosto e foi enterrada do lado da vergonha. Ele nunca disse que a amava e tinha razão. O amor reprimido e frustrado dela fica ecoando nas vielas da favela. Vielas que alimentam estórias que a morte é quem faz o 'feliz pra sempre'.

Nas vielas de onde moro.
'Onde eu moro não existe perdão'.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Vou aprender a andar.
Não tenho planos, sonhos
Asas, amores
Ou algo que me faça voar...

Não vou mais rastejar
Os versos um dia vão ficar em sintonia.
Vou quebrar os espelhos e refletir ao som do único disco que resta em minha estante.
As bebidas estão fora da validade e o meu documento diz que ainda vou valer por longo tempo.

A solidão azul desbotou e ficou cinza.
A cada lágrima, um novo tom de sépia.
Eu preciso levantar!
Um grito apenas não ajuda e eu tenho que entender isso.

Meus gritos que arranharam gargantas alheias
Foram gravados e modificados em um computador.
Se existirem outras gerações minhas, vão sentir prazer e orgulho de alguma fotografia de um ser que nunca existiu.
Sabe aquela coisa de andar? Eu vou andar!

E vou andar sozinha.
Afinal, tentei te ligar, mas não existem telefones no céu...
Por isso, vou andar!
Não sei pra onde ou se vou chegar nesse não sei, mas eu vou andar!

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Etiquetas e vitrines são modelo do verdadeiro lixo.
Quando os dicionários virarem bíblias e a cultura virar igreja, vocês vão morrer enforcados em seus próprios versos imundos. 
Entendam, arte não é algo feito a base de dinheiro. Sentimentos existem antes mesmo do homem existir.
Brasil, mude o cinzeiro e pare de mostrar os dentes amarelados. A favela samba na praça, os artistas sambam na cara dos políticos. Deixando marcas de salto e brilho que escorre da maquiagem.
É Brasil, vamos beber cachaça e dizer que somos felizes!

quinta-feira, 14 de junho de 2012


Após um longo passeio nas vielas do medo, sentei no meio de uma rua colorida. Cores tão intensas quanto as que existem nas vielas do morro. Voltei correndo aos becos da solidão. Preto, cinza, azul marinho e branco. Uma música clássica de fundo e um vento forte batendo no meu longo vestido. As lembranças do bar e a saudade de casa. As noites mal dormidas. Os pecados que motivaram a infelicidade estavam estampados em fotos nas paredes da sala de uma casa antiga. O telefone não funcionava e o disco não parava de tocar.
Um grito vindo lá de fora, mas a porta estava trancada. Uma menina pequena implorando socorro e eu não podia fazer nada.
Vida. O que significa esse pequeno nome? Por que a arte de respirar e sentir, recebeu esse nome? Nada de dicionários agora, não preciso saber o que imundos e terceiros explicaram as pessoas comuns. Quero entender por mim mesma.
Acho que vou voltar a minha teoria de criança.
Quando eu tinha uns dez anos, achava que a vida foi uma mulher que sofreu muito por todos e por isso que Deus usou o nome dela pra intitular a arte de respirar e sentir. Eu sei que é uma teoria sem explicação, mas eu era mais feliz quando acreditava nisso.
O disco começa a tocar invertido e as palavras viram um contrato com a morte. “EU ESTOU FALANDO DE VIDA, DA PRA ESPERAR UM POUCO?” gritei e o disco disse que iria esperar.
As cinzas da lareira eram resto de pessoas que se foram. Os papéis que enrolavam drogas eram certidões de nascimento de pessoas que assinaram algo com aquele disco. Fui até o segundo andar da casa e abri uma janela que iluminou e derreteu quadros daquele quarto cinza. Comecei a cantar alto, uma música que dizia no refrão “Liberdade está presa na cadeia do ser humano, no fim da inocência, do lado do dinheiro...”. O disco se enfureceu e me mandou calar a boca. Sorri e parei de cantar. Olhei pra trás e percebi que o quarto estava manchado com um pouco de tinta rosa. Foi ai que comecei a entender muita coisa sobre a menina que se chamou Vida. “Eu não vou estar aqui quando amanhecer. Minhas malas já estão arrumadas pra foto do adeus”. O disco ficou arranhado na parte que dizia felicidade. O rosa começou a tomar conta do quarto, as portas se abriram e os móveis derreteram formando tinta. A menina entrou correndo e abraçou minhas pernas. “Estamos livres, vem!”, eu disse a ela, que logo me respondeu:
- Do que adianta desafiar os cenários e as vozes ocultas e ainda sim ser infeliz?
- Precisa de mim? – Sentei ao lado dela – Quer que eu fique?
- Não, mas eu sei quem precisa de você. – Ela pegou uma caixa com um laço vermelho. – Vai pra casa, vai... Eu estou bem.
- Tudo bem, mas quem é você?
- Meu nome é infância...
E mais uma vez, um sorriso sincero nasceu no meu rosto. Esse mesmo sorriso que me acompanhou até em casa. Chegando lá, abri a caixa e vi uma fantasia de boneca. Vesti e comecei a rir em frente ao espelho do meu quarto. Sentei no chão e vi um bilhete ao lado da cama. Não consegui controlar as lágrimas de felicidade. Sai correndo até a rua e deixei lá o bilhete mais lindo que já recebi! O bilhete que dizia: “Obrigada por ter se lembrado de mim. Nunca mais me deixe. Um beijo da sua querida Infância.”. 


Cindy Ximenes

terça-feira, 12 de junho de 2012

Ele estava tão decepcionado que a bebida mais forte do bar, virou lágrimas.
O álcool fez arder seus olhos.
As mãos sujas de tinta fizeram arder mais.
Ele escuta o copo quebrando e virando lembrança.

Meu caro trabalhador, por que está assim?
'Quem está dizendo isso? O que quer comigo?'
Ele gritava com medo dos versos.
Afinal, a caneta agredia bem mais que uma faca.

Ele lavou os olhos.
Começou a pintar a última parede branca que restava.
Seus traços eram como palavras escritas por uma faca em um corpo nu.
Um sopro do céu faz com que seus longos cabelos voem...

Um coração invertido se forma
Mas não é aquela coisa escrota que as pessoas intitularam coração só para ser algo bonito.
O órgão estava ali, de cabeça pra baixo e sem movimentos.
Aquilo era uma pintura...

Ele prendeu o cabelo e começou a fazer um corpo.
Belas e longas curvas.
O corpo que só tinha um coração invertido.
Longos cabelos negros e um beijo nos lábios vermelhos que ainda estavam secando.

Ele engoliu tinta só para sentir o gosto dela.
Pegou o violão e tocou músicas de amor
Ele se declarou para sua nova companheira.
Três horas de juras de amor, ele adormece.

A imagem da mulher de tinta ganha vida.
Ela o abraça forte.
Eles dormem juntos e no dia seguinte acorda sujo de tinta.
Beija sua musa e volta a trabalhar.



Cindy Ximenes.