terça-feira, 14 de agosto de 2012

Vestido de festa





Cobras comendo cobras em cima de pneus pegando fogo.
Casas feitas de diamantes em cima de muita lama.
Casas de palha com dois andares.
Engraçado que com todos os meus pecados e cigarros ainda me vejo como alguém superior.
E vejo você na igreja pedindo perdão por algo que não fez.
Minha janela cheia de flores velhas e com teias de aranhas hoje viraram laços.
Laços com fitas e flores velhas... e com um pouco de sorte eu começo a costurar.
Um novo vestido de festa! Já que todos estão na guerra, eu vou costurar...
Nada de fardos ou uniformes, pois meus tecidos são coloridos.
Nada de cores infelizes, eu quero que o meu vestido sorria!
E ao som daquela música gostosa que faz doer de saudade eu vou desenhar o vestido que um dia uma fada poderá usar.
Uma fada tão doce e pura quanto uma criança.
Meus vestidos são como a cereja do bolo, como as flores entre as pedras...
Danças longas e banhos quentes. Meu vestido de festa é tão lindo quanto um anjo!
E ele é como o sol em meio a guerra. Pois diante de tantas mortes e infelicidades, ele continua fazendo brilhar e iluminar corpos infelizes.
Meu vestido de festa! Que faz belas curvas em corpos de escravas que fumam junto comigo.
E que esse vestido arrebente minha consciência e noção das coisas certas! Assim como o álcool faz.
Queimando e envenenando todos os quatorze pecados que existem em mim.
O colorido do meu vestido de festa vai colorir o sépia que predomina esse texto. E vai ser como chuva em meio ao sol, como dança ao redor da fogueira que já matou tanta gente inocente...
Os laços de flores com teias vão amarrar o mal e enfeitar o bem. O bem não existe sem o mal, então vamos guardar o mal, pois a mesmice amassa meus tecidos, minhas flores e meus cinzeiros.
E eu preciso dos três!
E não preciso de mais nada...
Vou queimar tecidos cinzas que vão se tornar cinzas na fogueira maldita.
E o meu vestido de festa vai cobrir meu corpo e vai me ajudar no ritual onde iriei me entregar a Deusa Lua.
E então eu serei pura e doce como uma criança...
Vou voar diante de todos as guerras e os pneus queimados.
Pois eu e meu vestido de festa não somos daqui, não somos de ninguém e nem de lugar nenhum...

Nenhum comentário:

Postar um comentário