terça-feira, 12 de junho de 2012

Ele estava tão decepcionado que a bebida mais forte do bar, virou lágrimas.
O álcool fez arder seus olhos.
As mãos sujas de tinta fizeram arder mais.
Ele escuta o copo quebrando e virando lembrança.

Meu caro trabalhador, por que está assim?
'Quem está dizendo isso? O que quer comigo?'
Ele gritava com medo dos versos.
Afinal, a caneta agredia bem mais que uma faca.

Ele lavou os olhos.
Começou a pintar a última parede branca que restava.
Seus traços eram como palavras escritas por uma faca em um corpo nu.
Um sopro do céu faz com que seus longos cabelos voem...

Um coração invertido se forma
Mas não é aquela coisa escrota que as pessoas intitularam coração só para ser algo bonito.
O órgão estava ali, de cabeça pra baixo e sem movimentos.
Aquilo era uma pintura...

Ele prendeu o cabelo e começou a fazer um corpo.
Belas e longas curvas.
O corpo que só tinha um coração invertido.
Longos cabelos negros e um beijo nos lábios vermelhos que ainda estavam secando.

Ele engoliu tinta só para sentir o gosto dela.
Pegou o violão e tocou músicas de amor
Ele se declarou para sua nova companheira.
Três horas de juras de amor, ele adormece.

A imagem da mulher de tinta ganha vida.
Ela o abraça forte.
Eles dormem juntos e no dia seguinte acorda sujo de tinta.
Beija sua musa e volta a trabalhar.



Cindy Ximenes. 

Um comentário:

  1. Alguns dias atras, meu filho Victro me falou:
    _ Pai! Estou sentindo cheiro de arte! Ao que eu indaguei:
    _Arte cheira a que, meu filho?
    _Parece cheiro de tinta.

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