sábado, 12 de maio de 2012

Laços, flores e dinheiro.

O piano estava desafinado e os sorrisos também. Uma sala coberta por joias com pessoas cobertas por joias com suas joias cobertas por joias. Uma criança chorava ao meu lado, senti vontade de chorar junto, mas minha mãe iria brigar se eu borrasse a maquiagem.
Um salto tamanho 33 e um colar que pesava em meu pescoço (posso dizer que pesava tanto quanto os pecados sobre a cabeça de um arrependido). No salão, as pessoas sorriam e tomavam veneno. Eu tentei tomar, mas disseram que crianças não podem tomar vinho.
Meia hora de festa. Voei ao som de valsa.
Uma hora de festa. Toquei o céu ao som de Ballet Clássico.
Duas horas de festa e fui vendida a pianistas e banqueiros.

Tudo bem, eu não consigo ficar muito tempo ao lado de pessoas como aquelas, fui até o quarto dos meus pais procurar a mamãe. Entrei devagar, ela estava no telefone dizendo: 'E o nosso laço, ainda está de pé? Não, eles não vão descobrir. Sei bem o que estou fazendo. Pode matar, é só mais um filho da puta indo embora. Viva o nosso laço!’.
Engraçado, sempre pensei que laços eram coisas que enfeitavam coisas de meninas, mas mamãe me mostrou que não. Eu passei por várias noites como aquela e assim descobri como as pessoas são ruins. Os laços são pactos para conseguir dinheiro. Ao enterrar pessoas, eles jogam flores para que o adeus se torne algo mais bonito. Laços, flores e dinheiro. Enterrar as vidas que se vendem nesse laço e morrer ao som do piano.
A vadia está folheada a ouro e a mulher em um saco de papel. Dentro de todas aquelas damas existe algo tão ruim que jamais eu iria me atrever a comparar com um animal. Se bem, que os dois são irracionais. E ainda sim acho que o animal vale bem mais.
Posso dizer que toda aquela alta sociedade é como a morte e que suas joias são como as flores que são jogadas. Pois ambos estão ali amenizando as cores vazias e sem rumo que existem e fazem mal.

A menina da solidão azul. Laços, flores e dinheiro
Cindy Ximenes.

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