quarta-feira, 9 de maio de 2012

Em uma noite fria e sem estrelas, sentei em uma mesa de bar e comecei a me matar aos poucos. Vinhos, licores, conhaques e cigarros. Afinal, eu não estava com pressa. 
Ao esfregar os olhos vi as mais diversas imagens de minha vida. Fechei os olhos e respirei fundo. Quando abri, vi uma vendedora de flores. Gritei pedindo que viesse ao meu encontro. Ela parou do meu lado, curta e grossa perguntou quantas flores eu iria comprar. Respondi:

- Compro todas se quiser. Mas também quero companhia.
- Por que eu faria isso?
- Eu preciso de uma amiga e você precisa de dinheiro.
Ela estendeu a mão - Cinquenta reais.
- Isso é um sim?
- Eu não sei. Você vai pagar?
- O dobro se quiser...
- Ótimo!

Dei o dinheiro a ela e pedi que sentasse ao meu lado. Segurei sua mão e em lágrimas disse:

- Preciso desabafar! Eu não aguento mais!
- Tem alguém com quem queira conversar?
- Não.
- Então me conte. Não nos conhecemos mesmo...
- Sabe, uma pessoa me faz muito mal.
- O que essa pessoa faz?
- Me engana, me sufoca, não me cuida e me deixa só - Um gole de licor de menta desceu seco junto com minhas palavras.
- "Não me cuida?" Oh meu Deus! Prossiga...
- Não me deixa viver, não me deixa ter amigos, não me deixa ser feliz...
- Que ser humano imundo! Por que não se afasta?
- Ele não é imundo. Ele tem medo e também sofre.
- Não entendo você. Ah e como se chama?
- Charles. Enfim, obrigado por tudo.

Levantei e fui pagar o bar, quando voltei ela ainda estava ali.

- Esqueceu algo?
- Aqui estão suas flores Charles...
- Obrigado.
- Me desculpe perguntar, mas quem é ele?
- A pessoa mais miserável que você possa conhecer.
- Quem?
- Eu...

Fui andando sem olhar pra trás e em lágrimas confessei pela segunda vez como me faço mal e como me faço prisioneiro de mim mesmo.



Cindy Ximenes.

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